quinta-feira, 31 de março de 2011

serpentiforme.

Serpenteia na minha estrada balançando a língua,
Querendo ódio sem explicação,
Cortando a dor com navalha cega,

Chega sempre querendo me devorar,
Querendo ser amiga,
Fica mim fitando como um objeto desconhecido
Tentando achar alguma função para mim,
Querendo que seja o seu domínio particular.

segunda-feira, 28 de março de 2011


Enquanto eu estou isolado, pessoas entram sem cumprimentar.
É verdade; claro que é verdade, que em todo lado existe calma; mais enquanto isso, eu estou isolado por todas as partes de um só lugar.
O que vejo é coisa nítida, pessoas claras, que quase estão sem luz, mais são todas claras.
E ainda assim prevalece a verdade; a verdade sobrevoa nossos olhares, mais não nossos corações.  


sexta-feira, 18 de março de 2011


Distante do corpo;
Sozinho no berço dos desamparados;
Sempre inquieto, querendo sentir o vento;
Sair desse cimento.

Visitas já não mim conforma mais;
Seja lá qual for;
Mulheres, rapazes, coveiro, doutor;
Querendo voltar a sentir qualquer coisa;
Sexo – que saudade eu tenho;
Desespero e medo juntos;
Distante de tudo e do corpo.

terça-feira, 15 de março de 2011


Cinco e meia de uma tarde de quarta-feira;
Água na cafeteira, incenso acezo;
Canela, sol se pondo;
A xícara parece uma lagoa;
Pensamento oprimido;
Língua buscando o refresco;

Fim de tarde;
Precauções visíveis;
Os bichos dormem;
A TV emburrece;

Cinco e trinta e cinco;
O café esfria na lagoa;
Pensamentos nada em mares secos;
A voz sai gritando - vem jantar.

sexta-feira, 11 de março de 2011

ESPELHO


Três e meia, e nada além de mim mesmo em frente a essa reflexão repetida;
A luz em meu rosto, a sombra no chão;
Retalho meu rosto na brisa quente posta no ar da água que cai;
A água suja esgotada alagada de suor;
No meu sangue ainda tem pó de semanas acumuladas;
Os pelos ardem no meu rosto;
Fora de mim existe alguém que não é eu;
Ele grita com os olhos, esses olhos não para de falar coisas sobre mim;
Me acusa, me difama, me joga no esgoto da escuridão dos meus pensamentos podres;
Aí então vejo um pouco o que eu sou.

quinta-feira, 10 de março de 2011

DEUSIANA


O guardanapo sujo quase molhado foi o único testemunho daquela criatura esplendorosa;
Em minha direção ela vinha quase angelicalmente, mais sua luz era meio ofuscada;
Parecia ter um passado muito conturbado;
Seus pelos dourados, sua pele cor de canela, suas pernas torneadas, no seu rosto um sorriso paradisíaco;
Pensava em ficar amarrado na cama; ela nua, mim dominando.

Veio até meus pés, caída pedindo auxilio;
Falou baixo em meu ouvido, sussurrou delicadezas de bondades e se foi;
Deu dois passos e me soltou um beijo, e continuou a sua cassa pelos bares;
Fiquei onde estava, pedi a saideira, o garçom deixou no prego, fiquei ali lembrando aquele estante;
Acendi o cigarro, peguei minha companheira noturna, e dediquei-me a descrever essa criatura, que me deixou mais embasbacado que um donzelo diante de seu maior tesouro.

fonte da foto: (blog) Bar do escritor : http://bardoescritor.blogspot.com

quarta-feira, 2 de março de 2011

 

Malditos sejam os normais;
Os andróides masculinizados;
As cortinas velhas nas janelas fechadas;
As maldições alheias;

Malditos sejam as poesias não lidas;
As questões malfeitoras;
As canções infernais;
As religiões mal interpretadas;

Malditos aqueles que me acha fraco;
Os semáforos imperdoáveis;
A morte inexplicável;
As paixões não correspondidas.